"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Sentido (ou falta de)

Tragam-me algo que me acorde os sentidos. Um álcool forte. Um impacto súbito. Um amoníaco. Uma droga. Um berro que se faça ouvir. Mostrem-me algo que faça sentido. Meus sentidos precisam de sentido. A vida, esta a mim me parece um grande absurdo. Falta uma palavra-chave ou a última peça do quebra-cabeça. Falta um porquê definitivo para todos os comos, quandos, ondes e quens. E quanto mais prossigo, menos sentido faço, menos sentido vejo nas coisas, nas pessoas, no tempo. Eu vivo. Mas e daí? Vivo apenas. Vivo com a sensação de faltar algo visceral. Não sou triste nem feliz. Sou a oscilação constante entre um estado e outro. Não sou mais nem sou menos. Sem escolhas, cumpro a existência. De tanto existir achei que pudesse alcançar um sentido. Mas não. Nenhum sentido. Passeio entre o moto-contínuo e o fogo fátuo, entre o ufanismo e a hipocrisia. Pior é se ver de fora do Grande Teatro. Se ao menos representasse bem, talvez o papel me trouxesse ao menos um falso sentido. Mas não sou das farsas. Pelo menos, não mais. Não fui boa atriz neste estrondoso espetáculo. Fui um fracasso dramatúrgico.

Falaram-me, certa vez, que o sentido da vida estava no amor. De fato, em todas as vezes que amei de amor, tive a ilusão de ter todos os sentidos exacerbados e de fazer todo o sentido do mundo. Na experiência do amor havia uma espécie de sagração, uma facilidade imensa de saber me encontrar. Eram experiências entorpecentes. Nada ao redor havia mudado. Mas o olhar de quem ama jamais se convence dessas imobilizações. O olhar de quem ama quer ver beleza, generosidade, cor e magia em movimento. Mas, talvez em função de tanto movimento, esses amores passam (não deveriam). E a relidade pós-euforia vai constatar, por repetidas vezes, que nada mudou. Ninguém mudou. Era tudo fruto da alucinógena condição de quem se lançava às paixões. Uma extasiante e deliciosa alucinação. Válida seria se não fosse tão espasmódica, e se nos impedisse de, logo adiante, quando o amor acaba, darmos de cara com a consciência dessa alucinação. E quanto mais consciência, menos sentido.

Levi Strauss levantou a voz e disse: "Tudo oferece um sentido, senão nada faz sentido". Mas o sentido que tudo oferece, aos meus olhos, é uma tremenda falta de sentido. Uma loucura. Uma inversão. Uma subversão. Um passatempo enquanto a gente espera pelo último de nossos dias.

O leitor certamente verá neste texto o reflexo do pessimismo. Ó, não! Não o é. Brinco com todas essas peças soltas, rio delas, danço com o acaso. O que falta mesmo é sentido. Talvez não haja profundezas, talvez não devêssemos colocar tantas expectativas em SER. Ou talvez eu não pertença a este mundo, que parece não ter nada de meu e onde seria uma visitante estranha, sentada na ponta do sofá. É isso...