"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

De prazeres e sofreres




Não, não considero loucura afirmar aqui que sinto um misterioso prazer em certos sofrimentos. Tampouco devo admitir qualquer sinal de masoquismo nisto. Não escolheria eu sofrer ou gostar de sofrer. Então não é loucura, segundo meu entendimento de loucura. O prazer a que me refiro diz respeito a dores mais mansas, que não agonizam nem conhecem as urgências. Dores como as de uma saudade conformada ou daqueles sonhos que já nascem sentenciados, mas que se aceitam como sonhos; dores como as de precisar adiar o agora, transferindo languidamente para o futuro a expulsão dos verbos trancafiados no peito; dores inexplicáveis do próprio processo existencial, e mais tantas outras formas desses sofreres quase que em paz.

Há, sim, um certo "prazer" - se é que posso chamar assim - em sofrer por causas que fazem de nós uma consequência maior. É como se neste prazer morasse a resposta para os supostos vazios e um sentido reconfortante qualquer. Quem não se perdeu de si durante as mudanças das estações talvez consiga compreender esses prazeres e sofreres. Pode escolher chorar ou sorrir na intermitência dos diferentes episódios que se sucedem, e se sucedem e se su-ce-dem... Pode sofrer sem precisar ser amargo. Quem não se perdeu de si não terá vivido em vão e saberá inscrever partituras de sinfonias inesquecíveis na própria história, as quais poderão ser executadas, a qualquer momento, com um mero olhar ou gesto...