"É, tá tudo bem, tá tudo certo!" Ando cansada dessas respostas comportadas, que evitam eclosões, explosões, insurreições. São reações convenientes. Convenientes pra quem? "É, tá tudo bem, tá tudo certo!" - e só eu não me conformo com tanto conformismo. Eduquei-me para não perder a linha, não explodir, não gritar, não cobrar. Tenho sido perfeita. Perfeita pra quem? Sei bem que, a cada pronúncia desses pálidos e equívocos consentimentos, algo de valioso e insubstituível morre e escapa de dentro do terreno dos encantamentos. Mas "tá tudo bem, tá tudo certo; all right!". O tempo resolve. O destino cuida. As divindades determinam.
Não, não e não! E os verbos omitidos? Onde ficam? Aprisionados porque oferecem risco de ameaçar a ordem pública? Educada e hipocritamente, vou dizendo "É, tá tudo bem, tá tudo certo", quando sei que tá tudo errado, que o comodismo anti-rebeliões é suscitado por algum anjo exterminador. Vou dizendo e "deixando rolar", também para não ter o trabalho de me arrepender das intempestividades no futuro, para não expor minhas feridas mal lavadas no varal farpado dos desacertos, para não irritar terceiros, que fazem muito barulho. Sucinta e lacônica, quando o que eu queria mesmo, em certas horas, era chutar o pau da barraca, gritar, xingar, transgredir.
Mas "tudo bem, tudo certo", deixa como está, nesse silêncio devastador, que vai minando pomares e frutos, que vai rescindindo antigos pactos, que vai apagando sóis e matando, paulatinamente, sentimentos e sensações. Há algo que morre sem alarde dentro da gente nessas manifestações de conformismo. Mas a manutenção da ordem estará assegurada e todos teremos sido hipocritamente educados em nossas piores intenções.