"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Não há forma ideal de sair de cena


Qual a forma ideal de se dizer adeus, de abandonar a cena e o personagem? Não há. Todos os movimentos de saída ferem (a começar pelo próprio parto que nos dá a vida). O apagar das luzes dói de qualquer maneira, seja esta civilizada ou irascível. Se as pessoas chegam à porta de saída é porque, de algum modo, se magoaram, se frustraram ou quebraram algo que antes era importante e agora deixou de ser. E isso inviabiliza qualquer despedida ideal.

Contudo, creio que a pior forma de se ausentar - já que a melhor não existe - é aquela em que não se pontua; aquela em que as palavras, ao invés da pronúncia que as libertariam, escolhem fazer o caminho de volta ao pensamento, saturando-o, intoxicando-o e confundindo-o. Aí, tudo o que não foi dito pode demorar a se esgotar, pode se subverter ou tomar formas ásperas e inadequadas. E, inevitavelmente, surgirão dúvidas recalcitrantes, recorrentes, que atormentarão por algum tempo - o tempo necessário para a dissolução do edema emocional -, por meios bem menos naturais. Sim, porque o tempo é sempre o tempo, esse senhor que tudo resolve, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra.

O silêncio e a moderação nas rupturas podem ser imponentes, educados e elegantes, mas são também pusilânimes. Há muito mais verdade nas impulsividades momentaneamente ofensivas ou destemperadas, que a emoção deixa escapar, do que na omissão comportada dos verbos. Além disso, quem ousaria recriminar a verdade, que, por ser verdade, já chega carregada de perdão, ao contrário das farsas do silêncio?

Parece que o mundo, em geral, não está preparado para as verdades; nem para dizê-las, nem para ouvi-las. E isso torna certas saídas muito mais torturantes, muito mais feias, antiestéticas. Mas, como não há mesmo uma forma ideal de sair de cena, e como somos um núcleo de imperfeições, resta-nos seguir em frente nesse desvio (ou atalho) do modo possível, cuidando para que não nos tornemos um ser humano pior. Afinal, há sempre uma nova estrada a cada saída. E a vida é mesmo essa sucessão de encontros, desencontros e reencontros.