"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Sem metades

half_full.jpg


Não me deem metades. Não me acessem pela metade. Não gosto de metades. Nem mesmo de caras metades (onde dois ficam reduzidos a um). Não gosto de metade do caminho, não gosto de pessoas pela metade, de conversas pela metade, de meias verdades, de meias mentiras. Se não posso ter a unidade, se não posso ser a unidade, prefiro então pequenos dízimos, quando não o nada. Os dízimos pelo menos funcionam como modestas sugestões, preâmbulos de alguma coisa, qualquer coisa que pretenda a sua integralidade mais adiante. Mas metades não, porque não são nem uma coisa, nem outra. Ou pior: podem ser uma coisa e outra, sem a convicção de ser. Metade de mim não sou eu. Viver pelo meio eu não vivo. Tudo o que eu puder ser, viver ou doar é integral, ainda que seja por um minuto, ainda que não haja sequências, ainda que eu viva o supérfluo ou a contradição. Essa divisão no meio é ingrata. E eu, que só sei ser inteira, em cada minúsculo movimento, vivo batendo de frente com a vida, repleta de meios-termos e de seres de meias-faces.

Note-se aqui que não falo de extremos, mas de inteiros, de um... Não falo de intermediários, mas de metades. É preciso não confundir intermezzos com metades. As primaveras, por exemplo, são agradáveis estações intermediárias, mas são primaveras inteiras e cumprem todo o seu ciclo. Gosto do intermediário, do equilíbrio, só não gosto de metades, do “pela metade”, do meio sim ou meio não. Metades são medíocres. Se não puderem me dar o inteiro, deem-me o nada, mas nunca a metade. Metades não matam minha sede, que é grande e inteira.