"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Apagão (ou Como enxergar melhor na escuridão)

E de repente tudo se apagou. Primeiro o susto, depois a indignação de ser obrigada a parar. Seguiu-se uma certa aflição. E, vendo que nada poderia fazer para que as engrenagens do século XXI voltassem a funcionar desesperadamente, resolvi experimentar a pureza do ar e do som. Pasmei ao perceber que, na escuridão, conseguia me enxergar melhor. Abri as janelas. Por sorte, soprava uma brisa salvadora pós-chuva, que me livraria do intenso calor. Já não havia desconforto. E relaxei, como nunca o fizera antes. Dispensei as velas. Uau! O caos urbano parado por quase 3 horas! Quanta paz, quanto silêncio! Troquei segredos com as nuvens, com a noite, com o cosmo. Todas as máquinas desligadas, todos os circuitos anulados. Era a vida em sua verdade, a natureza por si, sem nenhuma parafernália a acelerá-la. Pensei em como devia ser mais vida a vida de antigamente, sem TV, sem computadores, sem celulares. Familiares e amigos deviam se reunir mais, conversar mais, contemplar mais... Devia-se ouvir melhor os ruídos do vento, da chuva, da própria alma; sentir melhor a força dos céus, das árvores, das estrelas. Nenhuma pressa, nenhuma neura, nenhum artifício. Apenas a música aparecia como vítima nesse episódio de falta de energia - mas havia ainda alguma carga nas baterias do MP3 player ou rádio. Sim, ainda havia a música, além da ária magnífica na voz da natureza... Com este pensamento e uma sensação de paz, dormi convencida de que a civilização, embora inevitável, é um grande erro.

Eu não sei quem foi que apagou as luzes das cidades. Pode ter sido um boicote, um colapso da infraestrutura mal cuidada, um mero acidente. Apressaram-se em colocar a culpa na meteorologia, o que eu duvido muito. Mas danem-se os culpados. Eles nem imaginam o bem que me fizeram. Consegui acender minhas luzes no apagão.