"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Para quando parecer que o mundo acabou



Não dar ouvidos aos que dizem insistentemente: "Oh, também não é o fim do mundo!". Ninguém conseguirá lhe convencer do contrário neste momento. E, de certa forma, você tem razão. Pelo menos um mundo acabou. Após a hecatombe, a se dar conta de ter sobrevivido, já não será o mesmo de antes. Uma pequena (ou grande) parte de nós costuma morrer ali naqueles escombros de mágoa e descrença.

Viver a dor até o fim. Mergulhar até o limite máximo das profundezas internas, percorrer todos os labirintos, perscrutar todos os sombrios subterrâneos, deixar doer... A resistência ao sofrimento acaba por recrudescê-lo. Fica tudo pesado e rígido como correntes de ferro. Deixar-se cair, então. Ao tocar o fundo e perceber que dali não poderá passar, soltar a respiração. É imprescindível respirar bem para atingir a leveza do ser. Agora que já não há expectativas ou ansiedades, que detonaram uma bomba sobre o seu amanhã - ou pelo menos sobre o amanhã sonhado - fica fácil respirar pausadamente. É preciso cuidar para não se perder entre as perdas.

Fugir, não! Não é uma boa opção. Meter-se nas multidões, correr para um lado e para outro, movimentar compulsivamente o corpo, na intenção de espantar ou distrair a dura realidade não é recomendável. Afinal, você está sem mundo, vai se sentir um estranho no ninho, um sem-teto existencial. Além do mais, logo ali adiante vai dar de cara com a sua cara, e o resultado é a sensação de que apenas se prolongou um problema. No way out! Quando parece que o mundo acabou, não há fugas. O melhor a fazer é fugir das fugas! Começar logo o trabalho de desconstrução, antes que todos alicerces fiquem comprometidos.

Sair quebrando tudo pode ser a reação preferida de alguns. Há quem pense que esse tipo de expurgo faz bem. Não sei dizer ao certo. Os adeptos desta prática costumam afirmar que é salutar; argumentam que, diante de uma dor, a gente berra sonoros "ais" eu "uis" e libera os demônios. Realmente, não sei. Não é meu estilo transformar a vida em escândalo na hora da dor. Eu, particularmente, deixo os escândalos para alegrias e prazeres. Não me sinto bem quando quebro tudo numa crise nervosa, me vejo primária e canibalesca. Mas isto, como disse, é questão de natureza e estilo, um estilo que não é o meu. Aí é com cada um. Pulemos esta parte.

Por fim, depois de todo o percurso, subir à tona paulatinamente. Olhar o céu, o mar, as avenidas, as pessoas, e ver que o mundo não acabou. Há apenas um olhar diferente. Não, o mundo não acabou, e você já viu esse filme antes. Estará apenas um pouco exausto, depois da dolorosa jornada, para a complexa tarefa de construir um novo universo agora. Deixe isso para amanhã. Amanhã, a liberdade, a ressurreição. Amanhã...