"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

A dor e a delícia de ser livre

Blowing in the wind

Decerto já devo ter escrito sobre o tema que me vem à mente agora. Mas não importa... Vamos falar de liberdade.

Liberdade é um sentimento (e um estado) que dá medo, mas sem o qual eu não saberia viver. Estranho, não? Como conjugar liberdade e medo? São sensações paradoxais. O medo imobiliza, a liberdade movimenta. É mais ou menos como diz a velha canção de Beto Guedes: "O medo de amar é o medo de ser livre..." (mas falemos do amor mais adiante).

Esse medo de ser livre só acontece quando paramos para pensar a liberdade, e não quando a vivenciamos, já que pensar é prender. Não dura muito. E ele existe porque a liberdade vive sempre sob constante ameaça. Esbarra aqui, ali, nos personagens do nosso afeto, nas limitações mundanas, no direito do outro, nas decisões tomadas ou a tomar... Enfim, a liberdade é um constante exercício, e parte dela é ilusão. Sabemos bem que em plenitude ela não existe, nem para os pássaros. E a fração que nos cabe, quando a conseguimos, custa caro. Muito caro...

Para chegar a essa relativa liberdade, precisei antes ser prisioneira. Assassinei sonhos, feri pessoas, abri mão de falsas ilusões e falsas seguranças, cortei vínculos importantes, mergulhei no escuro. Mas, sim, valeu a pena. Valeu a pena porque era a minha vocação e a forma mais honesta de encontrar a mim mesma.

E justamente por isso nunca consegui entender uma relação de amor que não fosse livre. Amar com liberdade é um desafio torturante, porque, com o passar do tempo, vamos querendo formas e plataformas, muitas mãos e muitos chãos. É quase uma tendência natural essa de se construir portos seguros, fazendo-os maiores até do que o mar, e exercer um certo controle sobre o outro. Até compreendermos que nada disso garante a permanência dos amores, leva tempo. Compreender que todo sentimento é livre porque é intangível e não vísivel a olho nu, que todo desejo é livre porque é um sopro e uma abstração interna, implica que sejamos antes ilustres prisioneiros de nossos erros. Na dor nos libertamos.

Contudo, acredito eu, é só na liberdade que o amor se faz pleno. O amor e todo o resto. O ir e vir por vontade própria, a não vigilância do verbo, dos gestos, a ausência de imposições, o peito aberto e sem opressões, são a única certeza de que é possível repousar em um sentimento, seja ele qual for, e em nós mesmos.

Sejamos o barco e o vento do nosso próprio oceano.