"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Álgebra amorosa

Estava ela às voltas com uma equação irresolvível. Sabia apenas que havia um único elemento não-incógnito: o fato de "não poder ser". É... Esta parte estava bem clara: "não podia ser". Sabia disto desde o começo, sempre soube. Mas o que fazer com os outros tantos x e y que se proliferavam a partir do coração? Com esses incógnitos e perigosos elementos? Como resolver essa torturante equação? Não podia ser, mas era inevitável impedir todo o resto que era antes mesmo do "não poder ser". A cada dia os elementos incógnitos do coração ganhavam vida própria e perpetravam as vísceras e a alma.

O que fazer com esses inúteis e soberanos sentimentos? - pensava. Onde colocá-los? Como processá-los? Como legitimá-los? Lugar para eles não havia no mundo. Uma grande loucura. Mas, certamente, haveria de existir alguma matemática possível. Impedir o fato seria um problema menor. É fácil impedir os fatos, na medida em que se cala a voz do desejo ou do amor. O mundo nada perceberia e, portanto, o salvo-conduto ficaria assegurado. Mas o que se faz com toda essa vida ao avesso? Por onde ela deve escapar? Não, não há escape imediato possível. E a compressão de tanta vida, por não caber nos recônditos secretos de um único ser, resulta em dor insuportável. Dor de ter de existir sem poder cumprir a própria existência. Ela já sabe que tudo em si vai doer. Vai doer muito. Mas sabe também que não vai morrer, para seu desassossego. Prepara-se. Caminha para a sua sentença, sem impedir o coração de desenhar seu curso à mão livre e invisível.

A única solução possível: não pode ser. Mas pode ser por algum átimo do tempo. Dias, minutos, segundos que sejam. E, quem sabe, nesse átimo de tempo, não se consiga tocar a eternidade? Então, tendo-se sobrevivido, tudo terá valido a pena.