"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Os doces estertores dos 20 anos

Quando eu era jovem (mais jovem ;) ) e comecei a descobrir o fascinante mundo das ideias, tudo parecia possível, tangível, instigante, desafiador. É próprio da juventude as paixões levadas ao extremo. É próprio da juventude levantar bandeiras, mergulhar visceralmente em ideais grandiosos, querer arrumar o mundo. E eu não fugi à regra. No passado, junto com meus jovens companheiros de ideais, também queria mudar o mundo. Nosso templo era o Diretório Acadêmico, nossos gurus os autores de doutrinas radicais e perfeitas no papel (no caso, Marx, Hegels, Trotsky, Sartre, Gide, Nietzsche, Artaud, etc. etc.). Ganhávamos as ruas, fazíamos barulho, clamávamos por justiça, inspirados pelo gigantismo de sonhos que seriam exterminados aos primeiros lampejos da maturidade, e nem desconfiávamos disto. Deve ser uma questão hormonal essa ebulição dos 20 anos, isso da vontade de poder, de ser tomado por fúrias exacerbadas contra instituições e sistemas opressores e decadentes. A juventude quer e precisa lutar! Causas não faltam nunca. Fundos musicais muito menos.

Não que sonhos e paixões feneçam na maturidade, mas nesse estágio eles acontecem, incontestavelmente, de forma mais modesta, mais silenciosa, menos agressiva e menos coletiva. Com o tempo, eu, pelo menos, fui percebendo que as ideias que me insuflavam eram, de certa forma, influenciadas pelos grandes pensadores - em especial, os libertários -, e por isso mesmo não eram exatamente minhas. Com o tempo, compreendi que o mundo não muda fácil; quando muito, passa-se de uma ditadura a outra, de um extremo a outro, de um erro a outro. Com o tempo, compreendi que valores mudam, rebeldia sossega, euforias passam. E, no final das contas, acabamos, muitas vezes, por nos surpreender agindo "como nossos pais".

Sinto uma imensa saudade daquela imperativa (e hiperativa) avidez juvenil, que gritava alto, muito alto... Era um verdadeiro poema. Na verdade, ela não morreu, porque tornou-se parte integrante da minha história e responsável pelo resultado que hoje sou. Mas os ventos nos atiram à maturidade, ainda que à revelia. E isso não chega a ser um caos. A maior vantagem da maturidade é que nela podemos ser crianças, jovens ou maduros, conforme as circunstâncias, só que com o discernimento de saber usar esses estados de ser na hora apropriada. E a maior desvantagem é não termos mais tanto tempo para errar, tombar e recomeçar. Daí porque a voz da razão, muitas vezes, precisa calar a voz das paixões na marra.