"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Frequente estereótipo do vazio

Lá vai ele... De aventura em aventura, tentando se distrair de si, de algum casamento falido, talvez, do medo de abrir os olhos, de uma suposta insatisfação crônica, do vazio real, dos sonhos que não realizou e dos que não realizará. Mas ele sonha... Mas ele vai... Vai devagar, sem pressa alguma, porque pressa pode levar a lugares que não pode ou não quer chegar. Empurra com a barriga as ilusões bem construídas, as aventuras momentâneas, frágeis prisioneiras de seu vasto imaginário. Troca de ilusões, troca de emoções, troca de aventuras. Precisa ganhar tempo. Precisa sentir que vive, às custas da vida de alguém que lhe acredita.

E lá vai ele... Alguns, ao decifrarem suas fraquezas, dirão: "Pobre covarde!". Outros tomarão nosso personagem como um contumaz sonhador, um adepto do entretenimento passageiro, que não representa perigo à ordem social. Mas ele não se importa. Tanto faz o que dele pensarão. De aventura em aventura, o homem sem rosto vai passando por passar, com ares de vivre pour vivre. Inventa paixões imaginárias, se perde irresponsavelmente dentro delas, se perde dentro dele. Vive de se perder. Precisa se perder para não se achar. Perde-se com hora marcada. Até o momento em que avista o último limiar das margens que dividem a policromia de suas fantasias da monocromia de uma cinzenta realidade, a qual nunca ousará desafiar.

Lá vai ele... Não tão inócuo quanto parece. O invólucro da aparente sensatez e e da falsa alegria é mero artifício para colecionar mais um sonho, mais uma aventura. Falta-lhe coragem para se libertar, mas finge ser livre. Acredita que acredita em seu personagem, ainda que este se desfigure no último limite e ao primeiro obstáculo. Então é hora de fugir, foge de uma aventura para outra. Foge por não querer ver sua imagem refletida nos olhos de quem o contempla, ameaçando desmontar seus cenários surreais.

E lá vai ele... Deixando tombar os sonhos, ferindo um, ferindo outro, pelo meio do caminho, sem se dar conta. De aventura em aventura, ele se convence de que é tudo aquilo que gostaria de ser. E seria, se tivesse coragem. Porém SER exige coragem e coragem exige do SER.