"Por quê?"



"Por quê?" - Não faça desta pergunta uma arma, a vítima pode ser você!

13 de ago. de 2010

Dançando à beira do precipício

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"Não olhe muito tempo para dentro do abismo, que o abismo começa a olhar dentro de você" - Nietzsche estava ébrio de lucidez ao criar este aforismo. Não, eu não olho. Eu danço, danço. Danço, à beira do abismo, a dança da libertação, a dança do absurdo, que é o real sentido da existência. Imóvel em suas turvas profundezas, o precipício espera o passo em falso que me levará até ele. Enquanto isso, danço ao longo do limite que separa a luz do breu, encantada pela música que me chama, que me chama, tentando provocar o desastre da razão e dos axiomas comuns. Lucidez de mãos áridas, que vive de interromper todas as danças e todas as músicas. Lucidez que me chama de volta, mas eu não ouço.

Danço à beira do abismo sem olhá-lo, erguendo a face aos céus, ao sol, às chuvas e às estrelas. Olhar para o abismo é olhar também para o medo. E, permanecer entre o medo que trava e os desejos que movem, é queda certa. O que eu quero é dançar até que a música termine, que as orquestras silenciem e todos os compassos se extinguam. Através dos movimentos em allegro que inspiram essa dança, confundo o abismo, de modo a não deixá-lo olhar para dentro de mim. Que seja a última dança, que ensaie aos acordes do adágio do perigo. Não importa.

E assim será, até as última notas, até a última clave de Sol. Depois, se eu cair e sobreviver, terei ao menos compreendido os mistérios das danças e das músicas, que desconhecem o tempo e as razões para se fazerem ouvir.