Meus textos não são necessariamente as minhas verdades e, em absoluto, têm a pretensão de se tornar universais ou imperativos. Até porque a palavra sempre muda conforme o olhar e o momento vivido. Muitas vezes transformo em verbos o que gostaria de ser ou deles faço uso para tentar explicar certos estados de confusão. Da mesma forma, o que escrevo hoje pode vir a ser o que virei a criticar amanhã. Seja como for, a palavra (principalmente a escrita) muitas vezes me serve como bom sistema de drenagem. Precisamos purgar, fazer emergir, ejetar o que se acumula dentro de nós. O ser humano privado de expressão perde o sentido.
Alegro-me, portanto, quando alguns textos que aqui expurgo me ajudam a oxigenar o pensamento. E não são raras as vezes em que acabo influenciada pelas minhas próprias palavras. Pode parecer um paradoxo que a autora influencie a si própria. Mas não penso como Mário Quintana, quando diz: "Nunca me releio... Tenho um medo enorme de me influenciar. É verdadeiramente catastrófico quando um autor se transforma no seu discípulo." Ao contrário do poeta, eu sempre me releio. Gosto de acompanhar as variações, as mudanças, as nuances da minha existência semântica. E não tenho medo de influenciar a mim mesma, se a influência for boa.
Para mim, escrever é uma hemorragia salvadora. Acho que todos deveriam tentar, de alguma forma. Danem-se os erros de português, as sintaxes e as regências indevidas. Isso é detalhe. O que importa é se libertar do peso das ideias que efervescem e expeli-las ao léu, do jeito possível. Fica tudo tão mais leve depois da expulsão dos verbos que deixaram de acontecer ou que aconteceram de modo errado...