Perdoa, amor, as dores do mundo,
O massacre e a lama entre os homens.
Não era hora de tudo acontecer
Quando fui ao teu encontro.
Perdoa a realidade crua
A machucar nosso tempo.
Perdoa a Geografia menos verdejante
E a História mais sedenta de poder,
A falta de consciências,
A violência geral e o vazio das faces.
Não era hora de tudo acontecer
Quando fui ao teu encontro.
Perdoa a retórica destes dias,
Os temores recrudescidos,
Os desmandos e absurdos.
Perdoa a ausência de liberdade,
O trânsito engarrafado,
A maldição das urgências,
A neurose urbana,
A impureza do som
E a poluição dos ares.
A hora do nosso encontro
Deveria conhecer um mundo mais feliz,
Onde meus olhos te pudessem descobrir
Entre cores vivas e ar puro,
Onde os humanos tivessem
Música dentro de si
E risos mais freqüentes.
Perdoa também a mim,
Que não posso mudar os acontecimentos
Para te encontrar,
Mas,
Tão somente,
Acontecer entre eles.